AS GRANDES DIFICULDADES DE ORGANIZAÇÃO
F.E.B.
Segundo Marechal João Batista Mascarenhas de Moraes
Numerosos e difíceis foram os obstáculos à tarefa de se
organizar uma força expedicionária de acordo com os moldes norte-americanos.
Há longos anos o Exército Brasileiro vinha sendo instruído
por uma operosa missão militar francesa.
Sua organização, seus regulamentos e seus processos de
combate eram baseados na chamada “escola francesa”. De repente, quase da noite
para o dia, dentro da antiga moldagem, e no quadro da doutrina gaulesa, surgia
a tarefa de constituir uma Divisão de Infantaria, com a organização
norte-americana. E, além disso, instruí-la e adestrá-la segundo os métodos,
processos e meios norte-americanos.
Somente quem nunca se viu a braços com problemas análogos
pode ignorar as dificuldades, as incompreensões e choques daí decorrentes.
A nova organização exigia a criação de órgãos absolutamente
novos e a revisão quase revolucionária de princípios, há muito firmados em
nosso meio militar.
O problema consistiu em fazer sair, de um maquinismo montado
à francesa, uma Força Expedicionária que funcionasse à americana.
Outra dificuldade por vencer foi a seleção física do
pessoal.
O Brasileiro, de um modo geral, não é um homem robusto,
embora seja resistente.
A este embaraço inicial, adicionava-se a necessidade de uma
seleção, visando à escolha de homens aptos para o combate em clima e ambiente
totalmente diversos daqueles a que estavam habituados.
A questão da robustez física do expedicionário era, em
última análise, fundamental.
Verificáramos, meditando sobre o feliz sucesso das então
recentes operações extra-continentais, que os norte-americanos se adaptavam com
certa facilidade a todos os climas.
Qualquer que fosse a área da Europa, África, Ásia e América,
sob temperaturas elevadas ou intenso frio, realizaram satisfatoriamente as
missões que lhes foram confiadas, sem visível perda de rendimento físico. Desta
meditação decorrerá o ensinamento de que as ações militares contemporâneas
repousam na constante robustez física dos homens.
Outra dificuldade de vulto, que desde logo preocupou o
comando da tropa expedicionária, decorria da disseminação, em quatro Regiões
Militares, das Unidades componentes da 1ª D.I.E.
A situação desses elementos da F.E.B. implicava, como
corolário inevitável de uma distribuição dispersiva no território nacional, uma
subordinação administrativa e disciplinar aos comandos daquelas Regiões
Militares. Tal dependência, sem dúvida, iria refletir-se em muitos aspectos da
instrução especial desses elementos e, sobretudo, nas transformações por que
teriam de passar sob a direta responsabilidade do general Mascarenhas de
Moraes.
As dificuldades já enumeradas somavam-se duas outras, a
absoluta insuficiência do material de guerra americano entre nós e a
inexistência de um uniforme adequado ao futuro teatro de operações.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro
adquiria a totalidade de seu aparelhamento bélico na Europa, o que significa
afirmar que não havia, entre os reservistas convocados e os soldados
aproveitados na F.E.B., elementos que houvessem visto, pelo menos, o material
que iriam utilizar. Mesmo entre os oficiais, aqueles que o conheciam
constituíram uma minoria insignificante.
Daí a necessidade do adestramento militar ter que começar
pelo que havia de mais elementar na instrução individual.
E o material para isso era escassíssimo, e obrigava, em
conseqüência, a verdadeiros milagres de revezamento.
Relativamente à falta de uniformes adequados ao uso em
território europeu, basta declarar que foi necessário uniformizar a F.E.B., sem
que praticamente pudesse ser aproveitada uma só peça de material existente nos
Depósitos do Exército.
Cumpre assinalar, a esta altura da exposição acerca de
nossas dificuldades iniciais, a assistência valiosa prestada à F.E.B., desde
janeiro de 1944, por um operoso grupo de oficiais do Exército dos Estados
Unidos, aos quais muito ficamos a dever, particularmente no que se relaciona
com a prática do material e com o conhecimento da organização americana.