ROTEIRO DA F.E.B. NA CAMPANHA DA ITÁLIA
quinta-feira, 28 de junho de 2012
sábado, 23 de junho de 2012
A
viagem do 1º Escalão de embarque
Poderosos e graves foram os
motivos que impuseram a montagem de um eficiente sistema de escolta
ao navios transportes que conduziram os cinco escalões da F.E.B.
Em razão da probabilidade de
intervenção dos submersíveis contrários, destróieres brasileiros
e belonaves de combate americanas acompanharam até o estreito de
Gibraltar os navios que transportaram nossas tropas. A viagem no
Mediterrâneo realizou-se com uma nova escolta de navios americanos e
ingleses, contando com constante cobertura aérea. Blimpes e aviões,
com bases no Brasil e África, asseguraram a cobertura desses
transportes, desde os primeiros momentos da partida até o porto de
destino.
Completaram as medidas de
segurança as bombas de profundidades dos destróieres, o próprio
armamento dos transportes de guerra, o contínuo funcionamento do
radar e os aviões existentes nos cruzadores americanos da escolta.
Apesar de todos esses meios,
eram diários os exercícios de alarme para abandono do navio e
obrigatório o uso permanente de salva-vidas.
As regras de segurança
impuseram também o escurecimento do navio, durante a noite.
Com a efetivação de tal
medida, todo pessoal embarcado era empilhado nos alojamentos, que se
fechavam para impedir a filtração da mais fraca réstia de luz.
Desagradáveis, insuportáveis
mesmo, eram essas noites, quentes e infindáveis, vividas em
compartimentos abafados e lotados até o teto.
Além disso, a diferença de
alimentação e a agitação do mar provocaram o enjôo em grande
número de companheiros, o que tornava insuportável a vida nos
alojamentos.
Os freqüentes exercícios de
artilharia de bordo contra alvos aéreos interessaram muito à tropa
embarcada e constituíram um agradável passatempo.
Para aliviar as naturais
preocupações da viagem e o cerceamento da liberdade, decorrente das
medidas de segurança e escurecimento do navio, os comandos dos
transportes fizeram exibir alguns filmes cinematográficos e executar
programas variados de diversões, geralmente a cargo dos capelães de
bordo.
Ademais, a tripulação dos
transportes, desde o marujo ao comandante, esmerou-se em gentilezas
de toda ordem, tudo envidando para dissipar o turbilhão de saudades
e apreensões.
Desenvolveu-se natural e
imperceptíveis, a camaradagem entre a nobre maruja americana e os
expedicionários brasileiros. Através dessa convivência e mediante
a observação de sua conduta, nas horas de trabalho e nas ocasiões
de folga, firmara-se nos a convicção, ainda em viagem, de que entre
militares americanos e brasileiros iria estabelecer-se no campo da
luta, uma sólida amizade de guerra. A entrada do “General Mann”
no Mediterrâneo se revestiu de grande solenidade, tendo o comandante
do navio, capitão Paul Maguire, dirigido à F.E.B. entusiástica
saudação (¹).
Nesse ambiente decorreu a
viagem do 1º Escalão, até que na luminosa manhã de 16 de Julho de
1944, com o Vesúvio à vista, logo se descerrou o segredo: o nosso
porto de destino era Nápoles.
E, à proporção que o
“General Mann” avançava para o interior da ampla e formosa baía,
três capelães militares disseram a missa em ação de graças pela
nossa chegada ao porto de destino, sem sequer um registro de algum
incidente desagradável.
Dessa maneira, aportou ao
continente europeu a primeira força latino-americana destinada a
combater em terras de ultramar.
Esta “performance”
constituiu justo galardão aos esforços despendidos e riscos
enfrentados na travessia oceânica.
_______________
(¹) Exceto do discurso do
comandante Paul Maguire, quando saudava a F.E.B.:
“Brasileiros! Soias a
primeira força Sul-americana que primeiro deixou seu continente para
combater um ultramar, com destino ao teatro de guerra europeu,
constituindo um novo Exército de homens livres, que se vêm juntar a
tantos outros na luta pela liberdade dos povos oprimidos. Quem poderá
avaliar da suprema importância que podereis representar nos campos
de batalha? Não seria a primeira vez na História que a adição de
alguns homens a mais, num determinado setor de luta fizesse pender de
definitivamente para ele o fiel da balança e os louros da vitória.”
Em resposta, falou o general
Mascarenhas de Moraes, de cujo discurso extraímos o tópico abaixo:
“Senhor comandante!
Conduzistes as primeiras tropas terrestres Sul-americanas através do
Atlântico; ides fazê-las penetrar no Mediterrâneo e depois
entregá-las ao Teatro de Guerra do Sul da Europa. A minha Pátria
está vivendo assim o ciclo da grande e gloriosa Pátria de
Washington.
Colonizados e vitalizados
pela civilização européia, somos as Nações do Hemisfério
ocidental mais identificadas na defesa do patrimônio da Humanidade
em terras americanas e, muito em breve, nos campos de batalha da
Europa.
E esta identidade de destino
de dois povos unidos por tão alevantada aliança, traduz-se no
entrelaçamento de nossas bandeiras no Mediterrâneo, no próprio
berço da civilização cristã, que hoje engrandece os Estados
Unidos e o Brasil. Unidos na América e sobre as águas do Atlântico,
seremos na Europa também irmãos do mesmo ideal.”
domingo, 10 de junho de 2012
Os efeitos da guerra no Rio de Janeiro
Regina da Luz Moreira²
O conflito na Europa interferiu na vida brasileira, especialmente na então Capital da República, o Rio de Janeiro, o começar pelo relacionamento de sal e açúcar. Era freqüente deparar com pessoas que formavam filas para conseguirem cartões de racionamento. Imaginem uma vida sem geladeira, sem máquina de lavar roupa e automóvel.
Na época da guerra, na maioria das residências do Rio de Janeiro, ainda se utilizavam grandes pedras de gelo para refrigerarem os alimentos, entregavam-se as roupas, usualmente, às lavadeiras e os eletrodomésticos só começavam a circular, mais fartamente, depois da guerra com a liberação das importações. Para tomar a vida ainda mais difícil havia racionamento de gás, luz, carne e leite. Compravam este último nas cooperativas e pagavam-no com um mês de antecedência, por exemplo. A manteiga foi um produto raro, sem falar em combustível. Praticamente só os carros oficiais tiveram acesso à gasolina e, para os particulares, restou o gasogênio, conseguido à base de queima de carvão. Aconteceu tudo isto porque, com a guerra, a dificuldade de se importar petróleo foi enorme, o que levou o governo a decretar, em 1943, o racionamento de todos os produtos dele derivado. Os problemas, que atingiram o setor de transporte, imediatamente repercutiram nos demais setores da economia, o que causaram a escassez de determinados gêneros alimentícios e a conseqüente alta nos preços, aliás, os transportes já eram os vilões na história da cidade do Rio de Janeiro. Como os automóveis ainda não eram tão usuais como hoje, a grande maioria da população utilizava os transportes coletivos: bondes, ônibus e lotações.
Os bondes podiam ser de primeira ou segunda classe e de cargas. Este tinha a parte da frente fechada. No ônibus, sempre escassos, permitia-se que 8 passageiros viajassem em pé. chegou a haver, nos pontos, a fila dos que viajariam sentados e a dos que viajariam em pé. Quanto às lotações, recebiam esta designação porque só saíam do ponto com a lotação esgotada.
No tempo da guerra fizeram, também, passeatas no Rio de Janeiro. A União Nacional dos Estudantes, UNE, que protestou contra os seguidos afundamentos de navios brasileiros por submarinos alemães, realizou as primeiras. Em repúdio ao totalitarismo nazista e à manutenção da neutralidade brasileira, começaram a realizar as manifestações em meados de 1942, que acabaram por repercutir em outras cidades do país. Logo depois os cariocas se acostumariam a acompanhar, comovidos, o desfile dos batalhões da FEB pelas ruas do centro da cidade a caminho do cais do porto por ocasião do embarque para a Itália.
As notícias, em primeira mão, sobre os combates na Europa aqui chegavam pela voz de Heron Domingues, locutor do Repórter Esso, o famoso noticiário radiofônico criado em 1941. Os meios de comunicação, de uma maneira geral, desempenharam importante papel na conscientização da população para as dificuldades que seriam enfrentadas. A verdade é que apesar das aflições pelas quais eventualmente passaram a guerra não conseguiu tirar dos cariocas a proverbial de viver.
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² Mestra em História Social pelo IFCS-UFRJ
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