domingo, 10 de junho de 2012

Os efeitos da guerra no Rio de Janeiro
Regina da Luz Moreira²

                   O conflito na Europa interferiu na vida brasileira, especialmente na então Capital da República, o Rio de Janeiro, o começar pelo relacionamento de sal e açúcar. Era freqüente deparar com pessoas que formavam filas para conseguirem cartões de racionamento. Imaginem uma vida sem geladeira, sem máquina de lavar roupa e automóvel.
                   Na época da guerra, na maioria das residências do Rio de Janeiro, ainda se utilizavam grandes pedras de gelo para refrigerarem os alimentos, entregavam-se as roupas, usualmente, às lavadeiras e os eletrodomésticos só começavam a circular, mais fartamente, depois da guerra com a liberação das importações. Para tomar a vida ainda mais difícil havia racionamento de gás, luz, carne e leite. Compravam este último nas cooperativas e pagavam-no com um mês de antecedência, por exemplo. A manteiga foi um produto raro, sem falar em combustível. Praticamente só os carros oficiais tiveram acesso à gasolina e, para os particulares, restou o gasogênio, conseguido à base de queima de carvão. Aconteceu tudo isto porque, com a guerra, a dificuldade de se importar petróleo foi enorme, o que levou o governo a decretar, em 1943, o racionamento de todos os produtos dele derivado. Os problemas, que atingiram o setor de transporte, imediatamente repercutiram nos demais setores da economia, o que causaram a escassez de determinados gêneros alimentícios e a conseqüente alta nos preços, aliás, os transportes já eram os vilões na história da cidade do Rio de Janeiro. Como os automóveis ainda não eram tão usuais como hoje, a grande maioria da população utilizava os transportes coletivos: bondes, ônibus e lotações.
                   Os bondes podiam ser de primeira ou segunda classe e de cargas. Este tinha a parte da frente fechada. No ônibus, sempre escassos, permitia-se que 8 passageiros viajassem em pé. chegou a haver, nos pontos, a fila dos que viajariam sentados e a dos que viajariam em pé. Quanto às lotações, recebiam esta designação porque só saíam do ponto com a lotação esgotada.
                   Medidas oficiais aproximaram o carioca dos tempos de guerra. O treinamento da população para a realização de blecautes, a fim de prepará-la para eventuais ataques noturnos, foi uma: em setembro de 1942, por exemplo, decretou-se o blecaute em Copacabana ao longo de 3 noites e o bairro permaneceu na mais completa escuridão, ou ainda, a exigência, ao estrangeiro, do porte de salvo-conduto para as viagens pelo território brasileiro. Data da época a obrigatoriedade do porte da carteira de identidade para brasileiros maiores de 18 anos. Exigia-se este documento até para quem se aventurasse a sair do Rio de Janeiro para visitar parentes em Niterói. Outras medidas acabaram por se enraizarem na rotina do carioca, como as propagandas da Campanha do Gás, que orientavam o usuário a adotar hábitos mais econômicos.
                   No tempo da guerra fizeram, também, passeatas no Rio de Janeiro. A União Nacional dos Estudantes, UNE, que protestou contra os  seguidos afundamentos de navios brasileiros por submarinos alemães, realizou as primeiras. Em repúdio ao totalitarismo nazista e à manutenção da neutralidade brasileira, começaram a realizar as manifestações em meados de 1942, que acabaram por repercutir em outras cidades do país. Logo depois os cariocas se acostumariam a acompanhar, comovidos, o desfile dos batalhões da FEB pelas ruas do centro da cidade a caminho do cais do porto por ocasião do embarque para a Itália.
                   As notícias, em primeira mão, sobre os combates na Europa aqui chegavam pela voz de Heron Domingues, locutor do Repórter Esso, o famoso noticiário radiofônico criado em 1941. Os meios de comunicação, de uma maneira geral, desempenharam importante papel na conscientização da população para as dificuldades que seriam enfrentadas. A verdade é que apesar das aflições pelas quais eventualmente passaram a guerra não conseguiu tirar dos cariocas a proverbial de viver.



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² Mestra em História Social pelo IFCS-UFRJ

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