A
viagem do 1º Escalão de embarque
Poderosos e graves foram os
motivos que impuseram a montagem de um eficiente sistema de escolta
ao navios transportes que conduziram os cinco escalões da F.E.B.
Em razão da probabilidade de
intervenção dos submersíveis contrários, destróieres brasileiros
e belonaves de combate americanas acompanharam até o estreito de
Gibraltar os navios que transportaram nossas tropas. A viagem no
Mediterrâneo realizou-se com uma nova escolta de navios americanos e
ingleses, contando com constante cobertura aérea. Blimpes e aviões,
com bases no Brasil e África, asseguraram a cobertura desses
transportes, desde os primeiros momentos da partida até o porto de
destino.
Completaram as medidas de
segurança as bombas de profundidades dos destróieres, o próprio
armamento dos transportes de guerra, o contínuo funcionamento do
radar e os aviões existentes nos cruzadores americanos da escolta.
Apesar de todos esses meios,
eram diários os exercícios de alarme para abandono do navio e
obrigatório o uso permanente de salva-vidas.
As regras de segurança
impuseram também o escurecimento do navio, durante a noite.
Com a efetivação de tal
medida, todo pessoal embarcado era empilhado nos alojamentos, que se
fechavam para impedir a filtração da mais fraca réstia de luz.
Desagradáveis, insuportáveis
mesmo, eram essas noites, quentes e infindáveis, vividas em
compartimentos abafados e lotados até o teto.
Além disso, a diferença de
alimentação e a agitação do mar provocaram o enjôo em grande
número de companheiros, o que tornava insuportável a vida nos
alojamentos.
Os freqüentes exercícios de
artilharia de bordo contra alvos aéreos interessaram muito à tropa
embarcada e constituíram um agradável passatempo.
Para aliviar as naturais
preocupações da viagem e o cerceamento da liberdade, decorrente das
medidas de segurança e escurecimento do navio, os comandos dos
transportes fizeram exibir alguns filmes cinematográficos e executar
programas variados de diversões, geralmente a cargo dos capelães de
bordo.
Ademais, a tripulação dos
transportes, desde o marujo ao comandante, esmerou-se em gentilezas
de toda ordem, tudo envidando para dissipar o turbilhão de saudades
e apreensões.
Desenvolveu-se natural e
imperceptíveis, a camaradagem entre a nobre maruja americana e os
expedicionários brasileiros. Através dessa convivência e mediante
a observação de sua conduta, nas horas de trabalho e nas ocasiões
de folga, firmara-se nos a convicção, ainda em viagem, de que entre
militares americanos e brasileiros iria estabelecer-se no campo da
luta, uma sólida amizade de guerra. A entrada do “General Mann”
no Mediterrâneo se revestiu de grande solenidade, tendo o comandante
do navio, capitão Paul Maguire, dirigido à F.E.B. entusiástica
saudação (¹).
Nesse ambiente decorreu a
viagem do 1º Escalão, até que na luminosa manhã de 16 de Julho de
1944, com o Vesúvio à vista, logo se descerrou o segredo: o nosso
porto de destino era Nápoles.
E, à proporção que o
“General Mann” avançava para o interior da ampla e formosa baía,
três capelães militares disseram a missa em ação de graças pela
nossa chegada ao porto de destino, sem sequer um registro de algum
incidente desagradável.
Dessa maneira, aportou ao
continente europeu a primeira força latino-americana destinada a
combater em terras de ultramar.
Esta “performance”
constituiu justo galardão aos esforços despendidos e riscos
enfrentados na travessia oceânica.
_______________
(¹) Exceto do discurso do
comandante Paul Maguire, quando saudava a F.E.B.:
“Brasileiros! Soias a
primeira força Sul-americana que primeiro deixou seu continente para
combater um ultramar, com destino ao teatro de guerra europeu,
constituindo um novo Exército de homens livres, que se vêm juntar a
tantos outros na luta pela liberdade dos povos oprimidos. Quem poderá
avaliar da suprema importância que podereis representar nos campos
de batalha? Não seria a primeira vez na História que a adição de
alguns homens a mais, num determinado setor de luta fizesse pender de
definitivamente para ele o fiel da balança e os louros da vitória.”
Em resposta, falou o general
Mascarenhas de Moraes, de cujo discurso extraímos o tópico abaixo:
“Senhor comandante!
Conduzistes as primeiras tropas terrestres Sul-americanas através do
Atlântico; ides fazê-las penetrar no Mediterrâneo e depois
entregá-las ao Teatro de Guerra do Sul da Europa. A minha Pátria
está vivendo assim o ciclo da grande e gloriosa Pátria de
Washington.
Colonizados e vitalizados
pela civilização européia, somos as Nações do Hemisfério
ocidental mais identificadas na defesa do patrimônio da Humanidade
em terras americanas e, muito em breve, nos campos de batalha da
Europa.
E esta identidade de destino
de dois povos unidos por tão alevantada aliança, traduz-se no
entrelaçamento de nossas bandeiras no Mediterrâneo, no próprio
berço da civilização cristã, que hoje engrandece os Estados
Unidos e o Brasil. Unidos na América e sobre as águas do Atlântico,
seremos na Europa também irmãos do mesmo ideal.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário