A FEB aprende a lutar na
marra
Márcia Sampaio de Castro
Em meados de 1944, o ponto de
Nápoles, na Itália, era um pequeno retrato da guerra no front ocidental europeu.
Dezenas de navios retorcidos por bombardeios, outras tantas embarcações civis e
militares atracadas e uma infinidade de balões de gás, que tinham por objetivo
dificultar eventuais ataques aéreos, marcavam a paisagem do local definido para
o desembarque da FEB.
Em terra, pequenos detalhes
davam a real dimensão do caos que tomara conta da população civil. O
primeiro-tenente José Gonçalves conta em suas reminiscências que, “quando um
pracinha atirou uma ponta de cigarro sobre o cais, imediatamente uma multidão
se acercou do ponto onde o cigarro tinha caído para disputá-lo.” Outra visão
que muito impressionou os militares de homens que desembarcavam eram as
mulheres napolitanas, que trajavam saias especialmente curtas para a época. Testemunhar
a disseminação da prostituição em troca de alimentos ou por simples cigarro
ajudava o soldado brasileiro a entender o que realmente significava a guerra.
Num processo de aproximação
gradual com o front, o mês de agosto daquele ano seria utilizado para a
aclimatação, o treinamento e a incorporação da divisão brasileira ao 5º
Exército norte-americano. A FEB passava a ser mais uma unidade na verdadeira
babel em que havia se convertido o território italiano. Além dos próprios
norte-americanos, ingleses, sul-africanos, canadenses, hindus, marroquinos,
poloneses, franceses e, claro, alemães e italianos combatiam naquele pedaço da
Europa.
Outro dado importante para a
nova divisão aliada era saber que a Itália era um país dividido. Ao mesmo tempo
em que muitos de seus cidadãos comemoravam a libertação de territórios até
então sob o controle das potências do Eixo, vários outros atuavam como espiões,
passando informações vitais para o Exército alemão e para as forças fiéis a
Benito Mussolini. Em função disso, enquanto recebiam treinamento dos
instrutores norte-americanos, os brasileiros eram orientados a não comentar com
a população civil detalhes sobre movimentações da tropa ou tamanhos das
unidades. Nesse treinamento, os soldados brasileiros aprendiam a manejar as
armas automáticas, metralhadoras e canhões fornecidos pelos Estados Unidos. Já
os oficiais eram encaminhados para as divisões veteranas que se encontravam em
combate para acompanhar de perto o emprego das táticas e formas de comando a
serem adotadas em suas unidades.
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