sexta-feira, 20 de julho de 2012


A FEB aprende a lutar na marra

Márcia Sampaio de Castro

                   Em meados de 1944, o ponto de Nápoles, na Itália, era um pequeno retrato da guerra no front ocidental europeu. Dezenas de navios retorcidos por bombardeios, outras tantas embarcações civis e militares atracadas e uma infinidade de balões de gás, que tinham por objetivo dificultar eventuais ataques aéreos, marcavam a paisagem do local definido para o desembarque da FEB.
                   Em terra, pequenos detalhes davam a real dimensão do caos que tomara conta da população civil. O primeiro-tenente José Gonçalves conta em suas reminiscências que, “quando um pracinha atirou uma ponta de cigarro sobre o cais, imediatamente uma multidão se acercou do ponto onde o cigarro tinha caído para disputá-lo.” Outra visão que muito impressionou os militares de homens que desembarcavam eram as mulheres napolitanas, que trajavam saias especialmente curtas para a época. Testemunhar a disseminação da prostituição em troca de alimentos ou por simples cigarro ajudava o soldado brasileiro a entender o que realmente significava a guerra.
                   Num processo de aproximação gradual com o front, o mês de agosto daquele ano seria utilizado para a aclimatação, o treinamento e a incorporação da divisão brasileira ao 5º Exército norte-americano. A FEB passava a ser mais uma unidade na verdadeira babel em que havia se convertido o território italiano. Além dos próprios norte-americanos, ingleses, sul-africanos, canadenses, hindus, marroquinos, poloneses, franceses e, claro, alemães e italianos combatiam naquele pedaço da Europa.
                   Outro dado importante para a nova divisão aliada era saber que a Itália era um país dividido. Ao mesmo tempo em que muitos de seus cidadãos comemoravam a libertação de territórios até então sob o controle das potências do Eixo, vários outros atuavam como espiões, passando informações vitais para o Exército alemão e para as forças fiéis a Benito Mussolini. Em função disso, enquanto recebiam treinamento dos instrutores norte-americanos, os brasileiros eram orientados a não comentar com a população civil detalhes sobre movimentações da tropa ou tamanhos das unidades. Nesse treinamento, os soldados brasileiros aprendiam a manejar as armas automáticas, metralhadoras e canhões fornecidos pelos Estados Unidos. Já os oficiais eram encaminhados para as divisões veteranas que se encontravam em combate para acompanhar de perto o emprego das táticas e formas de comando a serem adotadas em suas unidades.

          

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