segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

1° Escalão desfila no Rio Janeiro


















AS GRANDES DIFICULDADES DE ORGANIZAÇÃO 
F.E.B.


Segundo Marechal João Batista Mascarenhas de Moraes



Numerosos e difíceis foram os obstáculos à tarefa de se organizar uma força expedicionária de acordo com os moldes norte-americanos.
Há longos anos o Exército Brasileiro vinha sendo instruído por uma operosa missão militar francesa.
Sua organização, seus regulamentos e seus processos de combate eram baseados na chamada “escola francesa”. De repente, quase da noite para o dia, dentro da antiga moldagem, e no quadro da doutrina gaulesa, surgia a tarefa de constituir uma Divisão de Infantaria, com a organização norte-americana. E, além disso, instruí-la e adestrá-la segundo os métodos, processos e meios norte-americanos.
Somente quem nunca se viu a braços com problemas análogos pode ignorar as dificuldades, as incompreensões e choques daí decorrentes.
A nova organização exigia a criação de órgãos absolutamente novos e a revisão quase revolucionária de princípios, há muito firmados em nosso meio militar.
O problema consistiu em fazer sair, de um maquinismo montado à francesa, uma Força Expedicionária que funcionasse à americana.
Outra dificuldade por vencer foi a seleção física do pessoal.
O Brasileiro, de um modo geral, não é um homem robusto, embora seja resistente.
A este embaraço inicial, adicionava-se a necessidade de uma seleção, visando à escolha de homens aptos para o combate em clima e ambiente totalmente diversos daqueles a que estavam habituados.
A questão da robustez física do expedicionário era, em última análise, fundamental.
Verificáramos, meditando sobre o feliz sucesso das então recentes operações extra-continentais, que os norte-americanos se adaptavam com certa facilidade a todos os climas.
Qualquer que fosse a área da Europa, África, Ásia e América, sob temperaturas elevadas ou intenso frio, realizaram satisfatoriamente as missões que lhes foram confiadas, sem visível perda de rendimento físico. Desta meditação decorrerá o ensinamento de que as ações militares contemporâneas repousam na constante robustez física dos homens.
Outra dificuldade de vulto, que desde logo preocupou o comando da tropa expedicionária, decorria da disseminação, em quatro Regiões Militares, das Unidades componentes da 1ª D.I.E.
A situação desses elementos da F.E.B. implicava, como corolário inevitável de uma distribuição dispersiva no território nacional, uma subordinação administrativa e disciplinar aos comandos daquelas Regiões Militares. Tal dependência, sem dúvida, iria refletir-se em muitos aspectos da instrução especial desses elementos e, sobretudo, nas transformações por que teriam de passar sob a direta responsabilidade do general Mascarenhas de Moraes.
As dificuldades já enumeradas somavam-se duas outras, a absoluta insuficiência do material de guerra americano entre nós e a inexistência de um uniforme adequado ao futuro teatro de operações.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o Exército Brasileiro adquiria a totalidade de seu aparelhamento bélico na Europa, o que significa afirmar que não havia, entre os reservistas convocados e os soldados aproveitados na F.E.B., elementos que houvessem visto, pelo menos, o material que iriam utilizar. Mesmo entre os oficiais, aqueles que o conheciam constituíram uma minoria insignificante.
Daí a necessidade do adestramento militar ter que começar pelo que havia de mais elementar na instrução individual.
E o material para isso era escassíssimo, e obrigava, em conseqüência, a verdadeiros milagres de revezamento.
Relativamente à falta de uniformes adequados ao uso em território europeu, basta declarar que foi necessário uniformizar a F.E.B., sem que praticamente pudesse ser aproveitada uma só peça de material existente nos Depósitos do Exército.
Cumpre assinalar, a esta altura da exposição acerca de nossas dificuldades iniciais, a assistência valiosa prestada à F.E.B., desde janeiro de 1944, por um operoso grupo de oficiais do Exército dos Estados Unidos, aos quais muito ficamos a dever, particularmente no que se relaciona com a prática do material e com o conhecimento da organização americana.

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